João Sasmana
João Sasmana é um Músico e Educador.
É Compositor, Arranjador, Produtor e Multi-instrumentista, sendo seu instrumento primário o Violão.
Nascido em 03/05/1997, começou seus estudos na música aos 12 anos. Teve um período de aprendizado de 10 anos com o renomado violonista João de Aquino até o momento de sua passagem, e se profissionalizou aos 18 anos como Professor e Músico.
Acompanhou diversos artistas, bandas e grupos de teatro e dança, atuando como músico, arranjador e diretor musical para esses trabalhos, apresentando-se em palcos como do MAM-Rio, G.R.E.S Portela, Teatro João Caetano, entre muitos outros.
Dividiu gravações e palcos com algumas lendas da música brasileira como Itiberê Zwarg, Robertinho Silva, Djalma Corrêa e Luizinho do Jejê.
Em 2018, participou como Compositor e Arranjador em trilhas sonoras para séries e filmes do Brasil e do Exterior e ministrou oficinas sobre violão afro-brasileiro em centros culturais da Zona Oeste do Rio.
Em 2019, Ministrou Curso Livre Sobre Violão afro-brasileiro na Escola de Música Villa-Lobos e produziu e Dirigiu seu primeiro EP Autoral com o projeto “Sanga”
Em 2022 passou a estudar a linguagem da música Gnawa do Marrocos através do estudo do instrumento Guembri, um ancestral do Violão, vindo a se apresentar com o grupo Afrikamusô para a rainha do Congo, Sua Excelência Diambe Kabatusuila.
Nesse ano de 2022, lança nas redes seu primeiro Single Autoral “Dendê” composto em 2020 e Gravado no mesmo ano no morro do Turano com produção de seu parceiro músical Gian Gomes.
Paralelamente passa a integrar grupos de Samba Chula, se aprofundando na linguagem do samba do reconcavo baiano, voltando-se às suas raízes familiares maternas, se apresentando em cerimônias religiosas em terreiros, ou em grandes festas como o dia de Iemanjá no arpoador e junto ao Filhos de Gandhi do Rio.
Graduou-se em Licenciatura em música pela UNIRIO em 2024.
João, fala um pouco das suas influências musicais. Em quais fontes você bebe?
Pra mim é mais fácil às vezes pontuar o que eu não gosto (risos). Eu comecei na música por causa do punk, mas depois já comecei a escutar samba, jazz, música de concerto e por aí vai… Eu sou um pesquisador, mas pra mim o cerne de tudo é a música brasileira. Minha raiz forte é o choro, o samba e o violão.
Você foi aluno do João de Aquino, né? Conte um pouco sobre como você chegou até ele e como era essa relação.
Minha mãe trabalhou por 20 anos como transporte escolar na Favo de Mel, que é uma escola para pessoas com síndrome de down e autismo na Faetec de Quintino. Eu já estudava música fazia uns 4 anos, eu tinha uns 16 anos e minha mãe me falou da escola de música Baden Powell que havia lá e que era gratuita. Eu quando criança andei muito de van com minha mãe e via o pessoal com os instrumentos da big band passando perto do teatro da Faetec com aqueles instrumentos de sopro. Entrei pelas vagas ociosas, fiquei de 6 da manhã até meio-dia na fila e consegui a vaga. Na hora de me matricular a mulher da secretária falou assim “você vai ter aula com o Gabriel, você vai ficar bem”. Então, fui ter aula com esse tal de Gabriel, isso era 2013. Gabriel era jovem, tinha 23 anos, e eu tinha 16, ainda estava no ensino médio. Gabriel me apresentou ao choro, me botou pra tocar meus primeiros choros. Não conhecia choro antes dele. Fiquei um ano estudando com Gabriel.
Eu tinha conhecido o som do Baden Powell um ano antes de conhecer o Gabriel. Aí um dia, isso já fazia um ano que eu tinha aula com ele, ele e um rapaz estavam conversando sobre o Baden Powell. Me interessei pela conversa — Baden foi o cara que me fez largar a guitarra e ir pro violão — perguntei pra ele: “o que que tem o Baden Powell”? Gabriel me respondeu: “eu sou sobrinho dele, você não sabia”? O Gabriel de Aquino toca pra caramba, não era normal mesmo, mas agora tudo fazia sentido. Eu tomei um susto quando ele me deu essa informação. E ele emendou “e sabe aquele velhinho que fica andando ali pelo pátio? Ele é meu pai, também é músico, se chama João de Aquino”. Então, quando eu fui pra casa fui procurar sobre esse tal João de Aquino, achei “Poeira Pura”, do disco Terreiro Grande de 1978, e curti o som. No dia seguinte, eu o encontrei na Faetec e disse que tinha ouvido essa música dele, que tinha gostado e que queria saber mais sobre ela. Ele ficou surpreso e contente e me contou mais sobre a música e ali nasceu uma grande amizade. O João de Aquino sempre estava pela Faetec vagando por ali com o violão e uma bolsa cheia de cifras que ele escrevia e CDs. Ele tinha um jeito de tocar violão que eu nunca tinha visto ninguém tocar parecido, uma mão direita muito própria, acordes e um jeito de harmonizar inimaginável. Lindo e genial. E ele era muito engraçado, tinha um jeito muito especial com o dom do humor e da palavra. Ele costumava criar arranjos e compor naturalmente e ficava botando a gente pra tocar o que ele ia criando ali na hora, era muito especial. Sinto que ele sentiu uma identificação comigo e me acolheu como o Meira e o Radamés acolheram ele quando ele também era jovem. Me convidou pra ir visitá-lo em sua casa e depois disso foram 10 anos de tardes maravilhosas da gente tocando junto, ouvindo música, e conversando e rindo muito. João virou meu melhor amigo e eu virei um dos melhores amigos dele. Junto com a esposa dele, eu fui a última pessoa a visitá-lo no hospital antes de sua passagem. Acho que ele gostava do fato de que eu sempre o via como o João, como um amigo, e não como aquele músico que fez tudo o que fez, havia uma pureza na nossa relação por conta disso. Ele morava perto daqui de casa (eu moro em Cavalcanti e ele morava em pilares) então, por vezes, eu ia a pé pra visitá-lo. Mas sei como foi um grande presente do Universo ter esse mestre que me ensinou tanto, acho que tudo de mais importante que eu aprendi como músico foi com ele.
Ainda sobre os mestres, me lembro de você falar muito no Irio de Paula. Você dedica uma especial atenção a alguns músicos que são desconhecidos para a maioria dos brasileiros. O que te chama atenção no som do Irio, por exemplo?
Pra mim, Irio de Paula é um gênio que deveria ser mais reconhecido, tal como o Baden, na sua contribuição para o Violão Brasileiro. Na Itália, o Irio é mais conhecido do que o Baden porque ele levou a linguagem do violão de corte que é o verdadeiro violão brasileiro pra lá. O Irio tem a mão direita do Baden pra levadas e tem uma capacidade e poética pra improviso como a do Hélio Delmiro. O Irio é um gênio, um músico completo. Nasceu em Bangu na década de 1940 e ganhou o mundo. A música dele deveria ser muito mais conhecida e difundida aqui no Brasil. As músicas dele deveriam ser ensinadas nas escolas para quem quer aprender a tocar violão de verdade. Mas infelizmente isso ainda é um trabalho de formiguinha que precisa ser feito pra dar à César o que é de César.
Passando para os sons contemporâneos? O que você está escutando de música brasileira? Que trabalhos você indica para nossos leitores?
Acho que as coisas mais fora da casinha que eu ouvi de 2023 pra cá foram:
Aguidavi do Jejê
Ilessi
Caxtrinho
Além de dar aulas e acompanhar um monte de gente, você tem um trabalho autoral também. Gostaria que você falasse um pouco sobre o Sanga.
Sanga nasceu de uma oportunidade de tocar num Festival de Jazz no qual queriam que eu fizesse o “João Sasmana Quinteto” ou algo desse tipo, mas eu não gosto muito desse tipo de coisa, pra mim parece pretensioso. Sempre gostei mais da ideia de uma banda, um lance mais horizontal, daí resolvi chamar meus amigos Petrutes, Morgado, Gian e Barata pra banda e a ideia era fazer um show com várias músicas autorais nossas. O show foi um sucesso e o impacto foi muito satisfatório pra nós mesmos e pro público. Surgiu o sentimento de que esse show deveria de alguma forma virar um disco. Então, eu consegui o estúdio da Unirio para as gravações e realizei toda direção do processo. Eu não queria ter uma responsabilidade de líder, queria poder dividir funções, mas acabou que quando eu percebi eu já tinha sido colocado nesse lugar sem que eu me desse conta. Ficamos o ano de 2019 inteiro tocando e na época da pandemia o projeto acabou por falta de perspectiva e grana e as masters ficaram ao relento durante um tempo. Essas músicas seriam trabalhadas por um cara que é o engenheiro de som da Globo responsável pelo som do Rock in Rio, num estúdio lá na ilha da Gigoia. A gente passou um tempo indo lá, mas a relação com do Morgado com o cara azedou e isso respingou no trabalho do projeto infelizmente. Então, o Gian me deu um ânimo e falou “vamos terminar isso nós mesmos, que se dane”! Eu dava aula numa escola no Grajaú e depois do meu expediente eu ia pra casa do Gian lá no Turano, onde ele tem o home studio dele, e a gente virou umas madrugadas editando e mixando aquele disco, aprendendo ali na marra. Se não fosse o Gian, nesse momento, esse projeto teria ficado engavetado, foi gravado em 2019, mas só foi lançado em 2022.
Não temos nenhuma condição para nenhuma divulgação, pagar marketing, esse tipo de coisa, então é mais uma coisa por fazer do que procurar algum hype em si. O importante é lançar e a música acha seu caminho. Ultimamente, as pessoas têm me perguntado sobre esse projeto, acho isso muito bacana. Muitas vezes eu não esperava que isso repercutisse em algum boca a boca como vem repercutindo, do tipo como responder uma entrevista sobre isso, já que não houve nenhuma espécie de divulgação massiva sobre esse trabalho. Acho um trabalho muito interessante. Vejo que não reflete mais o que nenhum de nós envolvidos nesse projeto faz atualmente em termos músicas, eu tinha 22 pra 23 anos quando gravei essas músicas e tinha 20 quando compus “Mundo Gira”, por exemplo. Hoje estou com 28, então já não reflete mais quem eu sou e o que eu faço, mas eu olho pra esse projeto com muito carinho e muito orgulho por ser um retrato bonito daquela época. Conseguimos fazer um projeto que demandaria um investimento que não tínhamos naquela época, mas as portas e oportunidades se abriram porque as pessoas estavam curtindo a música que estávamos fazendo naquele momento e foi um momento em que estávamos fazendo música pela música sem esperar nenhum tipo de retorno por isso. É uma bela lembrança e um retrato de jovens amadurecendo e seguindo seu caminho, conquistando espaços que para eles não haviam sido programados e superando obstáculos para servir ao propósito maior de se expressar e fazer música.
Em 2022 você lançou um single nas plataformas. Quando teremos mais músicas disponíveis?
“Dendê” assim como a Sanga foi uma iniciativa solitária minha e de Gian Gomes. Recentemente eu e Gian lançamos “Quebra Demanda” da mesma maneira. O nome da música tem a ver com a planta e com Ogum, mas o nome é um trocadilho por que essa música é da safra da época da Sanga, e ficou esse tempo todo ali quietinha até ser gravada em 2024 e lançada agora em maio de 2025. Eu tenho vontade de lançar meu primeiro disco autoral e eu já recebi a cobrança de diversas pessoas do meio musical. Mas sozinho isso é inviável. Seria necessário o apoio de uma gravadora que pudesse ajudar viabilizar todo o processo que envolve a produção de um álbum. Já tenho muito material que poderia resultar em um álbum, porém sem recursos não há incentivo para que isso possa acontecer, mas continuo fazendo meus trabalhos e produzindo minha música até que esse momento se concretize oportunamente.